3.2.07

Os "Mitos de Interesse"

O debate sobre a contabilização correta do déficit da previdência parece uma questão trivial, um assunto de menor importância. Não é.

Este novo posicionamento do governo mostra uma disposição para enfrentar um assunto de extrema importância para a sociedade brasileira e o nosso futuro: Os “Mitos de Interesse”, o papel da mídia ao difundí-los, e o impacto disso no futuro do país e no nosso dia-a-dia.

Repito, este assunto é de extrema importância para o futuro do país, e a posição do governo, e nosso apoio a ela, podem gerar um marco de ruptura.

Primeiro vale a pena qualificar o que são “Mitos de Interesse”.


Encontrei esta definição em um livro do jornalista João Carlos Teixeira Gomes, o qual transcrevo praticamente na íntegra, com destaques em vermelho e os meus comentários em itálico:


Hitler teorizou bastante no Mein Kampf sobre propaganda, tendo escrito claramente que ela não deve ter compromissos com a verdade, mas sim com o convencimento da opinião pública. Não é preciso que a adesão do povo a uma idéia seja obtida através da visão ética da veracidade que ela possa conter, porque o importante não é a idéia em si , mas sim a maneira com que ela se apresenta:nesse caso, tudo justifica uma mentira apregoada despudoradamente, desde que seja disseminada com competência, através da repetição, ou seja, o essencial para o líder nazista, era a reiteração da idéia, mesmo se mentirosa, “repetida e repisada constantemente”. Escreveu ele:

Qualquer que seja o talento que se revele na direção de uma propaganda não se conseguirá sucesso, se não se levar com consideração sempre e intensamente um postulado fundamental. Ela tem de se contentar com pouco, porém esse pouco deve ser repetido constantemente. A persistência, nesse caso, é, como em muitos outros nesse mundo, a primeira e mais importante condição de êxito.

Com o fim da guerra fria e a hegemonia ideológica e política da “economia de mercado” foi proclamado (equivocadamente como vemos agora) o fim dos “Estados-Nação”, que teriam as suas fronteiras e atribuições derrubadas pela “globalização”. O “Mercado” passou a ditar as políticas, utilizando os governos como meros executores de suas orientações.

Para isso, já que passou a fazer política, o "Mercado" passou também a utilizar a “propaganda” no sentido da comunicação com interesses doutrinários.




Para difundir a propaganda, contou com a inestimável e voluntariosa ajuda dos meios de comunicação e das elites locais, logicamente interessadíssimos em uma parte nas oportunidades que se abriam em um mundo em que as leis do “mercado” se impunham como a única direção.

Para isso foram criados os “Mitos de interesse”,
expressão criada pelo crítico Northop Frye no livro O Caminho Crítico e assim por ele definida:

O mito de interesse existe para manter a sociedade unida, tanto quanto a eficácia das palavras pode concorrer para isso. Por este motivo, verdade e realidade não são diretamente relacionadas, mas socialmente determinadas. Verdade, por interesse, é aquilo que a sociedade faz e acredita em resposta à autoridade, e uma crença, na medida que pode ser verbalizada, é uma declaração de vontade de participar de um mito de interesse, portanto, tende a tornar-se linguagem de crença.

Em resumo: um mito de interesse não consagra uma verdade real, mas sim uma verdade socialmente imposta, mesmo que ela seja uma mentira (por exemplo, o Iraque possuía armas de destruição de massa). Conforme observa Northop Frye, trata-se de um fenômeno que “tem as suas origens na religião”, mas podemos acrescentar que se estende a todos os campos da atividade humana, especialmente à vida política, sob a pressão de interesses de dominação social e de ideologia política.

Um “Mito de Interesse”, pois, é, em princípio, uma simples formulação verbal, no entanto trabalhada para se transformar num pacto social através da adesão dos destinatários da mensagem, cujo convencimento é necessário ao sucesso do que se propõe, pois a função primordial do mito é eliminar resistências e questionamentos.

Por fim o autor chega aos “Mitos de Interesse” propagados e abraçados pelo governo FHC, alguns já foram desmistificados, outros continuam sendo repetidos incansavelmente pela “vanguarda do atraso”. São eles:

1) nenhum país pode hoje escapar à influência da globalização, que é um processo histórico irreversível (Derrubado. A maioria dos países que aderiram a este mito na década de 90 estão resgatando o papel do estado, com sucesso);


2) sem as reformas constitucionais (indicadas pelo “Mercado”) não há salvação para o Brasil, que descerá ao fundo do abismo

3) o funcionalismo público, constituído de marajás e parasitas, é o segmento social responsável pelo desequilíbrio nas contas públicas (conseguiram avançar muito, com terceirizações, privatizações, arroxo e ausência de novas contratações. Mas, o governo atual vem recompondo quadros através de concursos e dando reajustes. Porém os porta-vozes do mercado continuam pregando o congelamento de salários dos servidores públicos com o sofisma do “controle dos gastos correntes”. Na prática é só acompanhar os estados governados pelo PSDB que continuam seguindo esta doutrina)

4) a previdência pública levará o país a bancarrota (esta é a discussão do momento, com um grande revés para os doutrinadores)

5) terminado o ciclo intervencionista da Era Vargas, o Estado não deve interferir na Economia. (Avisem a China, Índia, Venezuela, Argentina, Bolívia, alguns dos países que mais crescem no mundo)

6) as empresas estatais são necessariamente ineficientes e mal-geridas (graças a deus este governo está mostrando o quanto isso é errado: a Petrobrás, Eletrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica e o BNDES por exemplo vêm cumprindo de maneira formidável seu papel social e de desenvolvimento do país, ainda assim apresentando resultados financeiros excelentes, históricos)

7) só o processo de privatizações permitirá ao governo concentrar recursos (diminuído a dívida pública, lembram?) nas áreas de educação, saúde e segurança, a eles devendo limitar-se a ação do estado.(Este discurso foi o grande derrotado da duas últimas eleições. Nos curto-circuitos de gestão de FHC e Alckmin)

8) a universidade pública brasileira é improdutiva e as responsabilidades do governo com educação devem concentrar-se no ensino fundamental; (e o desenvolvimento científico e tecnológico ? Ah, é claro ... deixa para os países de 1º mundo...)

9) a estabilidade do servidor é a causa da ineficiência do serviço público (e dá-lhe terceirizações e contratos “turn-key”)

10) as leis trabalhistas entravam a modernização da economia e estimulam o desemprego, devendo ser flexibilizadas (não se mexeu uma vírgula nisso, a legislação é a mesmo do governo FHC mas esse governo criou 5 milhões de empregos com carteira assinada em 4 anos. O que estava errado ? A legislação ou o governo?)

11) o desemprego é inevitável no mundo de hoje, em conseqüência dos avanços tecnológicos do sistema de produção industrial. (Para este tópico vale a pena lembrar de uma capa da Veja no auge da apologia ao “livre mercado”




precisa dizer mais alguma coisa ?)


12) o movimento dos sem-terra (ou qualquer movimento ou organização com raízes sociais, trabalhistas ou anti-“Mercado”) levanta uma questão explosiva e constitui uma ameaça à paz social)

Não é necessário que um “Mito de Interesse” seja uma mentira por completo; em certos casos, pode até representar uma verdade parcial, um fato incipiente ou uma simples projeção, ideologicamente agigantada para conquistar o apoio da sociedade (terceiro mandato de Lula é o novo ?), sem meios de defesa de contesta-la ou rejeita-la, confundida pela manipulação sistemática da propaganda.

2 Comments:

At 7:09 PM, Blogger Bruno de Moura said...

Muito bom o seu blog

Podiamos trocar links

vou colocar o seu blog no meu.

 
At 7:10 PM, Blogger Bruno de Moura said...

www.midiaparaquemprecisa.blogspot.com

 

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